1 de jul. de 2011

Por não conseguir ver

     Era noite. Sua mente dava voltas em torno de si mesma, numa rotação descontínua. Andava devagar, por impossibilidade de fazer diferente.
     Entrou num botequim sujo, caras desconfiadas o fitavam. O mundo havia parado por alguns instantes e ele podia ouvir seu coração batendo. Ela já o esperava.
     Em um olhar ele já estava cego. De repente, se via em um espaço vazio sem ninguém, sem nada: só ela. Seu coração acelerava mais, seu peito esquentava, lembranças queimavam sua visão. Largado em um sentimento forte e negro, que em pouco tempo fez dele um animal. Transformou-o forte por fora e fraco por dentro.
     Sem ver nada e ouvindo apenas ruídos de terror, ele grita. Grita alto na imensidão de seu inconsciente. Os ruídos aumentam, como que para desafiá-lo. Ele responde à altura, usando uma voz que desconhecia e um fôlego que nunca lhe pertenceu ele tem ódio. 
     Possivelmente o maior ódio que alguém pode sentir: é o ódio do amor. Um ódio que nasce de um vazio deixado por um amor que se é nescessário, mas que se esvai rápido deixando uma grande ferida aberta. Seus músculos se contraem e sua voz aumenta ainda mais. Mesmo assim, os ruídos não param de batalhar com ele. Então, por um estranho extinto, junta suas mãos na frente do seu corpo e as aperta. Ele para de gritar. Os ruídos baixam. Ele não sabe o que está fazendo. Ele não sabe o que está acontecendo.
     Ele ouve um "Me desculpe", de uma voz familiar. Uma voz que há muito, já lhe disse belas palavras de amor e conforto. Era ela! Sua visão volta ao normal a tempo de ele conseguir vê-la, dando seu último suspiro que sai com dificuldade pela garganta, que suas mãos precionavam com tanto ódio. Ele a solta, no desespero de tentar salvar a vida que tirara, cegamente.
     Ela está em seus braços. Ela o amava, o queria. Ele também. Mas ambos queriam uma coisa em comum:enxergar um ao outro.
    
    

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